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E3: bastidores de um panteão iluminado para pessoas importantes e vencedoras.

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Em 2008 não existia Kinect, hackers atacando a PlayStation Network ou portáteis tridimensionais. Era um tempo em que a E3, essa Copa do Mundo particular dos gamers, esse evento diferenciado para jornalistas responsáveis e vencedores, procurava se redefinir – e talvez por isso mesmo tenha deixado escapar uma ou outra ovelha desgarrada por suas portas.

O evento deixava o formato pulverizado, que em 2007 havia espalhado empresas e visitantes por diversos pontos de Los Angeles, e voltava para o Convention Center, ali ao lado do Staples Center (entendo muito), com a missão de juntar os cacos e recomeçar a vida na cidade californiana.

Era sinal de um “show floor” mais modesto, sem estandes épicos, sem as fundamentais booth babes, sem toda a pirotecnia que, no fundo, para muitos, é o verdadeiro motivo de “estar na E3″. Significava também uma ênfase maior nas “salinhas fechadas”, lugares em que você só entraria com entrevistas previamente combinadas com agentes da ONU ou algum email impresso confirmando que, sim, você é um vencedor e um cara legal que respeita embargos e mantém o Outlook em dia.

(<–) se você não fosse aceito, ficaria sentado no chão (<—)


Sob as ordens de um portal grande não especializado em games, eu era um repórter single-player que, até então, só tinha acompanhado a E3 à distância, fosse como leitor de revistas de games ou redator das mesmas mais tarde. Eu tinha mais dúvidas do que expectativas, mas pelo menos uma certeza: que a quantidade de informações a absorver, processar e comunicar naqueles três dias que se transformam em 12 justificaria a descoberta de novas espécies de energéticos. Era mais ou menos meu único plano de vida no momento – e deu mais ou menos certo, segundo o gastroenterologista.

Como manda o livro de regras funcionário-público da E3, você precisa ter sua opinião sólida antes e depois do evento. “Quais são suas apostas?” vem antes, “E aí, quem se deu melhor?” surge depois, com um peso maior que a primeira. Nas respostas você precisa citar números, leis tributárias, projeções de “market share” e pelo menos uma daquelas empresas que fabricam videogame. No meu caso, nunca mais voltei à E3 porque ainda estou terminando a resposta da primeira pergunta (firmware 2008) e ainda não preenchi o requerimento de rascunho da segunda. Tudo o que tenho são algumas fotos de 2008 para compartilhar com vocês, mas espero que elas não cheguem a atrapalhar toda essa autocelebração endêmica que contamina a classe “jornalistas de games” nessa época do ano.

Los Angeles, julho de 2008 – Um novato na E3

A pré-E3, que geralmente acontece na segunda-feira que antecede a abertura oficial, é quando as principais empresas marcam suas apresentações em instalações cinematográficas como o Nokia Theatre e o Kodak Theatre, segundo haviam me informado. Os passes de entrada em 2008 eram essas pulseirinhas: clean e light para a Nintendo, clubber e reluzente para a Sony. Procurei a versão da Microsoft no eBay, mas tinha esgotado. Fator diversão: 3

A Nintendo reservou o Kodak Theatre e não soube gerenciar os passes VIP (marcados por um círculo em cinza 15% escondido na pulseirinha branca padrão). As agentes da empresa também falharam ao pensar que câmeras com lente “zoom” eram sinônimo de “fotógrafo profissional”, fato que levou uma caravana de brasileiros para a primeira fileira. O acidente resultou em fotos que não deixam dúvidas: era, mesmo, Shigeru Miyamoto apresentando o revolucionário Wii Music. Gráficos: 4

A Electronic Arts ficou com o charmosinho Orpheum Theatre, e por ali mostrou novidades como um certo Dead Space, um tal Left 4 Dead e outros. Peter Moore brincou de golfe, enquanto Will Wright se deliciou com números sobre Spore, que até então só existia enquanto “editor de criaturas”. Ele também brincou com a capacidade de as celebridades “entrarem de cabeça” nesse mundo dos joguinhos, o que nos fez parecer uns 50 pontos mais inteligentes. Jogabilidade: 2,5

Já a Bethesda trocou os “Theatre” por um bar texano para falar de Fallout. Era lá que teríamos anúncios, revelações únicas e confidências sobre o jogo, pensava eu. E era lá que não teríamos nada disso, já sabiam os outros brasileiros que eu acompanhava. O mais próximo das wastelands que tivemos foi um secador de mãos, no banheiro, que certamente tinha um adesivo Vault-Tec em algum lugar. Não serviram Nuka-Cola, mas o cardápio de frituras lembrava as melhores variações culinárias de um Mirelurk. A surpresa foi John DiMaggio, o dublador de Marcus Fenix. Ele surgiu do nada, assumiu o karaokê e, humildemente, colocou cada um dos indivíduos do Saddle Ranch em seu devido lugar de uma vez por todas. História: 5

Nas salas do Centro de Convenções você podia encontrar Koji Igarashi, que chamou mais atenção com o chicote do que com as novas versões de Castlevania, e Peter Molyneux, que mostrou Fable II. O designer da Lionhead nos guiou por alguns cenários do RPG e cumpriu bem aquele papel de “produtor apaixonado” que se espera dele. Embora não pudesse revelar muita coisa, ele garantiu que as “demon doors” continuariam existindo, o que significava que a E3 2008 já tinha cumprido seu dever, pelo menos para uma pequena parcela dos indivíduos presentes naquela curta demo. Apresentação: 3,2

O tão badalado “show floor“, onde os jogos ficam disponíveis para você dizer que testou e fazer suas previsões ou reclamações, ia de Postal III a Rock Band 2, Resistance 2 e Wii Resort com Motion Plus. Poucas filas, nenhum palco em formato de Transformer e muitos “promotores” entristecidos, procurando o glamour perdido do evento que caía de 60 mil visitantes (2006) para 5 mil almas perdidas. Só me lembro de ter passado bons momentos com Deer Hunter. E Fallout 3 (mas em uma sala secreta e mediante assinatura de tratados internacionais). Fator replay: 1,2

Como todos os analistas sérios e respeitados concluiriam depois, 2008 não teve a melhor E3 dos últimos 320 anos. “Era um período de transição tanto para o evento quanto para a própria indústria”, dizem. A volta ao Convention Center era bem-vinda, mas ainda faltavam o barulho, o clima de “maior show da Terra”, grandes novidades e acontecimentos de verdade, elementos que só começariam a retornar em 2009. Extremamente envolvido em tantas análises definitivas e formadoras de caráter, missões cumpridas e quests abandonadas, saí de lá satisfeito, na verdade, com uma conquista que não estava na agenda fantástica da cobertura exclusiva: conseguir explicar a um taxista russo o que era o tal do Guitar Hero.

Em 2011, nós, do Kotaku Brasil, ficaremos à distância, publicando por aqui os melhores relatos do Kotaku US e buscando boas notícias, nada mais que boas notícias. Expectativa: (risos)

[Foto 2: republicada com autorização de Pablo Miyazawa, do GamerBR]
[Outras fotos: publicadas originalmente no portal G1 em 2008 - Renato Bueno/Kotaku Brasil]

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Desconsiderando as Evidências são umas opiniões aleatórias do Bueno, editor do Kotaku Brasil. Ele gosta da E3 e gosta de videogames.

(Por Renato Bueno em KOTAKU Brasil)


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